🔊 Clique para ouvir o texto
Lubi Prates Brasileira, nascida no ano de 1986, em São Paulo, é poeta, tradutora, editora e curadora de literatura. Com três livros publicados, tem participação em diversas coletâneas e revistas nacionais e internacionais.
Fundadora da nosotros, editorial, Lubi Prates é responsável também pela revista literária Parênteses. Se dedica a ações que combatem a invisibilidade de mulheres e negros e é doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento Humano, na Universidade de São Paulo.
Organizou os festivais literários para visibilidade de poetas, o “Eu sou poeta”, em São Paulo, no ano de 2016, e “Otro modo de ser”, em Barcelona, na Espanha, no ano de 2018. Participou de festivais literários no Brasil, como o de Votuporanga, e em países da América Latina, no Uruguai e Argentina, com o La Juntada, de poesia jovem.
É a tradutora da Poesia Completa de Maya Angelou, publicada em 2020, foi uma das organizadoras de GOLPE: antologia-manifesto, que reúne diferentes artistas sobre os rumos da política brasileira, e uma das curadoras do Clube de Leitura Antirracista, que aconteceu durante o ano de 2019, no Centro Cultural São Paulo.
PARA ESTE PAÍS – Lubi Prates
para este país eu traria
os documentos que me tornam gente os documentos que comprovam: eu existo parece bobagem, mas aqui eu ainda não tenho esta certeza: existo.
para este país eu traria
meu diploma os livros que eu li minha caixa de fotografias meus aparelhos eletrônicos minhas melhores calcinhas
para este país eu traria meu corpo
para este país eu traria todas essas coisas & mais, mas
não me permitiram malas
: o espaço era pequeno demais
aquele navio poderia afundar aquele avião poderia partir-se
com o peso que tem uma vida.
para este país eu trouxe
a cor da minha pele meu cabelo crespo meu idioma materno minhas comidas preferidas na memória da minha língua
para este país eu trouxe
meus orixás sobre a minha cabeça toda minha árvore genealógica antepassados, as raízes
para este país eu trouxe todas essas coisas & mais
: ninguém notou, mas minha bagagem pesa tanto.
***
Ele não me viu com a roupa da escola, mãe? (Marcos Vinicius da Silva, 14 anos, assassinado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro)
e ainda que eu trouxesse
para este país
meus documentos meu diploma todos os livros que li meus aparelhos eletrônicos ou minhas melhores calcinhas
só veriam meu corpo
um corpo negro.
Obras: Coração na boca (2012); Triz (2016); Um corpo negro (2018); Golpe: Antologia-manifesto (2017, organização); Poesia Completa, Maya Angelou (2020, tradução).
Comentarios